Nada como uma comidinha caseira, não é mesmo? Além de ser boa e feita com ingredientes frescos, é também mais saudável. Mas surge a pergunta: quem vai fazer essa comida?
O tema do bate-papo de hoje na Arena Conhecimento se baseou também no livro de Bela Gil, intitulado “Quem vai fazer essa comida? Mulheres, trabalho doméstico e alimentação saudável que aborda a relação entre alimentação saudável, feminismo e trabalho doméstico, trazendo à tona um debate muitas vezes ignorado. Quem será responsável por cozinhar para a dona de casa, a mãe, a avó, a esposa, a empregada doméstica migrante, a mulher pobre e preta da periferia? E quem preparará a comida delas e de suas famílias?
Bela Gil abordou essa questão e destacou algumas dificuldades enfrentadas por muitas mulheres brasileiras. Ela ressaltou que “70% das mortes no Brasil e no mundo são decorrentes de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade, hipertensão, entre outras. No Brasil, essas doenças estão relacionadas a um estilo de vida e a alimentação tem um grande impacto na nossa saúde”.
Os números alarmantes não param por aí. Segundo Bela Gil, uma recente pesquisa revelou que 57 mil brasileiros, entre 30 e 60 anos, morreram devido ao consumo de produtos ultraprocessados. Portanto, uma alimentação adequada tornou-se uma questão de saúde pública. Mas novamente surge a pergunta: quem vai fazer essa comida?
Essa provocação é legítima quando consideramos que o trabalho doméstico não remunerado não é reconhecido, valorizado e muitas vezes é terceirizado sem uma remuneração justa. E quando olhamos para mulheres pretas e pobres da periferia, vemos que elas carregam um fardo ainda maior.
A proposta é buscar uma distribuição justa. Bela Gil ressalta que “os economistas já valorizaram esse trabalho. Mundialmente falando, o trabalho doméstico não remunerado gera 5 milhões de dólares por ano, o que significa 13% do PIB mundial”.
Um exemplo simples da realidade brasileira é citado por Bela Gil: “Eu adoro cozinhar, mas não romantizo esse processo quando sei que há pessoas com jornadas duplas ou triplas de trabalho, que pegam duas horas de condução para ir e mais duas horas para voltar e ainda precisam cozinhar em casa”.
Cozinhar é prazeroso, mas demanda tempo. A competição entre produtos ultraprocessados e produtos naturais muitas vezes é desigual. Bela destaca “desde o ano passado, as alternativas ultraprocessadas se tornaram mais baratas, principalmente o macarrão instantâneo. Então, eu seria aquela pessoa que abriria um pacote de biscoitos e distribuiria para as crianças. Temos que fazer o possível para que cozinhar se torne uma realidade nas casas das pessoas, pois do jeito que está, não funciona”.
É fundamental para valorizar, remunerar e redistribuir justamente o trabalho doméstico, buscando uma distribuição equitativa de tarefas dentro do lar, em que o gênero não seja o critério principal. Somente assim poderemos fazer com que cozinhar se torne uma realidade acessível a todos, resgatando a importância da comida caseira feita com ingredientes frescos e saudáveis.
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