No primeiro dia da Bio Brazil Fair | Biofach América Latina e Naturaltech 2025, dois painéis na arena principal das feiras marcaram o início das discussões com reflexões profundas sobre a relação entre alimentação, saúde e produção sustentável.

 Em “Alimentos Orgânicos e Saúde”, especialistas como a nutricionista e CEO da VP Nutrição Funcional Valéria Paschoal e o nutricionista Daniel Cady apontaram como a alimentação vai muito além do prato: envolve o solo, o modo de cultivo, os efeitos no corpo e na mente.

 Já o painel “Você não sabe o que está comendo! Da terra à mesa, o que perdemos no caminho?”, com Ana Maria Diniz e Gabi Marques, do Polvo Lab, provocou o público sobre os bastidores da cadeia produtiva e a invisibilidade dos ingredientes naturais e dos pequenos produtores na mesa dos brasileiros.

Saúde na mesa

Valéria Paschoal apresentou dados científicos que demonstram como os alimentos orgânicos têm maiores níveis de compostos fenólicos, com ação antioxidante e anti-inflamatória. Ela explicou que esses compostos são fundamentais para a saúde da microbiota intestinal e, consequentemente, para o equilíbrio emocional, hormonal e até cerebral.

“Alimentação saudável não é luxo, é um investimento essencial na nossa saúde”, afirmou. A especialista também alertou sobre o impacto dos agrotóxicos como disruptores endócrinos, afetando fertilidade, tireoide e podendo gerar efeitos intergeracionais.

Daniel Cady compartilhou vivências pessoais e profissionais que reforçam a ideia de que saúde integral exige reconexão com a natureza. Ele defendeu o cultivo e o consumo de alimentos que respeitam o solo e a biodiversidade, e criticou a medicalização da vida moderna e o excesso de ultraprocessados.

“O ser humano adoece à medida que se afasta da natureza”, declarou, relatando como o contato com a terra e a agrofloresta o ajudaram a superar uma crise de ansiedade. Cady e Valéria defenderam ainda a inclusão da Agroecologia nas formações acadêmicas em Nutrição, promovendo um novo olhar sobre o alimento.

Transparência nos rótulos

No segundo painel, Ana Maria Diniz e Gabi Marques revelaram que apenas 25% dos brasileiros compreendem o que está escrito nos rótulos dos alimentos. Para elas, os rótulos muitas vezes não são feitos para informar, mas apenas para cumprir exigências legais. O projeto Polvo Lab, criado por ambas, busca justamente inverter essa lógica, conectando cooperativas da agricultura familiar ao mercado com curadoria, assistência técnica e desenvolvimento de marcas próprias, como o caso do mel da cooperativa Comap, no Piauí, que se transformou no produto “Mesmo”.

Com exemplos de ingredientes brasileiros como babassu, cacau, licuri e feijão de corda, as fundadoras do Polvo Lab mostraram que o país tem um enorme potencial nutricional e social que ainda é pouco valorizado. “A embalagem influencia mais do que o conteúdo para muitos consumidores”, observou Gabi Marques.

Elas também alertaram sobre os desafios enfrentados por pequenos produtores: dificuldade de logística, quebra de fornecimento, falta de padronização e marketing, além da ausência de incentivos para a sucessão familiar no campo.

Repensando o consumo

Os dois painéis convergiram em um ponto central: precisamos repensar a forma como produzimos, escolhemos e consumimos nossos alimentos. Seja valorizando o alimento vivo, orgânico e biodinâmico, seja criando pontes entre o campo e a cidade, o conhecimento técnico e a sabedoria ancestral, os debates mostraram que transformar a alimentação é uma ação urgente, coletiva e possível. A mensagem é clara: comer bem é um ato de saúde, política e cuidado com o futuro.

Confira a programação completa das feiras e não perca nada:
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